Fonte: Carro online
Em 2004, a Nissan decidiu que faria uma gama de carros compactos baratos e resistentes para atender ao BRIC, sigla pela qual os economistas e investidores se referem a Brasil, Rússia, Índia e China. Esses países, apesar das diferenças culturais, históricas e geográficas, têm em comum economias em expansão e grandes populações com novos anseios de consumo em todas as áreas.
A decisão foi tomada porque os estrategistas da Nissan identificaram que os consumidores desses quatro países preferem (ou só conseguem) comprar carros pequenos, e que as ruas dessas nações têm asfalto de baixa qualidade, recheado de imperfeições.
Barato, pequeno e resistente. Com essas condições em mãos, a Nissan começou a desenvolver em 2005 a plataforma V, alusão a "versátil". Ela daria origem a um hatch, um sedã pequeno e um monovolume. Quatro fábricas (México, Índia, Tailândia e China) ficariam a cargo de construir os carros para 160 países. O primeiro resultado da plataforma V chegou em 2010 com o March (chamado de Micra em outros mercados).
O compacto chega ao Brasil em outubro deste ano. Fomos até o México, onde o nosso March será feito, para ter o primeiro contato com o carro. No Brasil, o novo Nissan terá duas opções de motor: o 1.0 16V que equipa os Renault Clio e Sandero e um novo 1.6 16V, ambos flex. Este 1.6 é chamado de HR16 e pertence à mesma família do 1.8 encontrado no Tiida. Os March destinados ao Brasil ainda não estão na linha de montagem, portanto, avaliamos a versão mexicana com motor 1.6, que por lá bebe só gasolina - aqui ele será flex.
Dados técnicos do carro brasileiro? A marca não quer divulgar ainda. Porém, apuramos alguns detalhes. O câmbio será manual de 5 marchas em ambas versões. Há opção de câmbio automático de 4 marchas, mas os engenheiros ainda trabalham para acertá-lo com os motores flexíveis. Então, nada do automático tão cedo. O motor 1.0 16V deve render até 77 cv, mesma potência encontrada no Clio. O 1.6 flex, comparado ao 1.6 de 106 cv do México, segundo investigado, deve render "2 cv a mais e 2 cv a menos" com etanol e gasolina, respectivamente.
Preço? A Nissan apenas informou oficialmente que a cifra do March de entrada começará com 2. Nossa apuração apontou que o carro virá bem equipado. Entre os itens de série que o fariam mais atraente que os concorrentes estão direção assistida eletricamente, vidros elétricos, ar-condicionado e sistema de som. Eles devem estar em todos os March. Portanto, o Nissan 1.0 deve ter preço inicial de R$ 29 000 e o 1.6 ficará na casa dos R$ 34 000.
Legal, mas como é o March ao volante? Primeiro, vamos observar a carroceria do Nissan. Achou estranha? Ao vivo o carro fica melhor do que nas fotos, isso posso dizer. As peças estão bem montadas, os vãos são regulares e as chapas têm rigidez. Há soluções inteligentes, como a disposição dos faróis, que canalizam o ar em direção aos retrovisores para melhorar a aerodinâmica; um ressalto na parte de trás do teto, que melhora o espaço no banco traseiro; e vincos na frente para dar resistência à chapa e fazê-la mais fina, leve e barata.
Segundo a Nissan, a versão mexicana é muito próxima à brasileira em questão de acabamento. Isso dito, posso reportar que o interior é satisfatório. Simples, funcional e bem construído. Os plásticos do painel têm textura amigável e encaixes bons. Os painéis de porta, por outro lado, parecem usar um material um pouco mais barato. No geral está bom, tomando como parâmetro os carros populares fabricados no Brasil.
Viro a chave e o 1.6 de 106 cavalos de potência desperta. Busco minha posição de dirigir. Pronto, encontrei. Bancos confortáveis, revestidos com tecido agradável. O volante tem bom encaixe para as mãos, mas só é regulável em altura. Os instrumentos têm fácil leitura. A visibilidade é elogiável em todas as direções.
Primeira marcha. O câmbio tem engates curtos, precisos e firmes. Muito bom. A manopla oferece boa empunhadura, apesar de usar plástico bem simples. O pedal de embreagem é bem modulado e leve, como a direção elétrica em baixa velocidade. É fácil manobrar. No caótico trânsito da Cidade do México, o Nissan está em seu ambiente. Com rapidez, mudo de faixa, usando a boa visibilidade e a direção precisa. O March tem marchas curtas até a terceira. A cabine tem pouco ruído e só é possível ouvir as buzinadas costumeiras do tráfego mexicano. Já a suspensão foi bem e não incomodou os ocupantes. Na estrada, as relações da 4ª e 5ª marchas mostram que são mais longas.
Ok, isso diminui o consumo, mas atrapalha as retomadas. Um ponto negativo foi a inclinação excessiva da carroceria em algumas curvas. Segundo a Nissan, o March brasileiro terá conjunto mais firme. Ainda bem. A direção leve demais em altas velocidades é incômoda. O sistema poderia ter uma variação de assistência mais inteligente.
Andei também como carona e estive no banco de trás. Meu 1,82 m ficou bem como co-piloto e, por incrível que pareça, confortável no banco de trás. Meus joelhos e cabeça tinham boas folgas. Portanto, nada de aperto no banco traseiro. É claro que, para três pessoas, a coisa já complica, mas dois vão bem.
A conclusão é que o March tem bons atributos, como a garantia de três anos. A Nissan não divulgou, mas apuramos que a marca quer começar vendendo 2.500 carros/mês (70% da versão 1.0) e pretende chegar a 5.000 até 2014.
Ficha Técnica
Motor: 4 cilindros em linha, dianteiro, transversal
Cilindrada: 1.598
cm³
Cabeçote: 4 válvulas por cilindro
Potência: 106 cv a 5.600 rpm
Torque: 14,4 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: manual de 5 marchas
Tração: dianteira
Rodas: liga leve 15"
Suspensão dianteira: McPherson
Suspensão traseira: eixo de torção com molas helicoidais
Comprimento: 3,78 m
Altura: 1,52 M
Largura: 1,67 m
Entre-eixos: 2,45 m
Porta-malas: 265 litros
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