Fonte: Carplace
Nas últimas semanas, o simples tomate da saladinha diária e do molho da pizza foi elevado à categoria "artigo de luxo", com o quilo do item chegando a impensáveis R$ 10. Com a alta, é claro, o fruto se tornou o novo símbolo de revolta dos consumidores brasileiros. A história, como sempre, recai sobre aquela velha pergunta: afinal, por que tudo no Brasil é tão caro? Ou se torna caro?
Safra fraca do tomate à parte, essa queixa de preços altos é bem conhecida aqui do nosso lado do balcão, no setor automotivo. E nas últimas semanas alguns lançamentos só reforçaram essa tese. A Hyundai liderou a lista de reclamações, tanto em seus modelos importados como também na versão sedã de seu compacto nacional, feito em Piracicaba (SP), e, portanto, sem a "desculpa" de pagar o super IPI dos estrangeiros. O fato é que o HB20S de entrada, com motor 1.0 e sem freios ABS, já começa acima dos R$ 39 mil. Para efeito de comparação, o rival Chevrolet Prisma parte de cerca de R$ 35 mil.
Mas o verdadeiro disparate aconteceu com os importados da marca, sob a responsabilidade do Grupo Caoa. Outro dia uma amiga que não é nada ligada em carros veio me perguntar que modelo ela comprava, depois de sete anos com o "Kazinho" 1.0 dela. Disse que tinha gostado bastante do i30 e estava tentada pelo preço, na faixa de R$ 50 mil. Na hora saquei que ela tinha visto um dos últimos i30 do modelo antigo que ainda estão na loja. "Sim, o antigo. Aliás, aquele novo custa R$ 75 mil por que, se tem motor 1.6 contra 2.0 do anterior?", ela indagou. Engasguei na resposta.
Seja pelo super IPI, pelo peso dos demais impotos ou pela política de cobrar mais caro no lançamento (a conhecida relação entre oferta e procura), já conhecida do Grupo Caoa, o fato é que o i30 saiu da lista de carros com ótimo custo-benefício para a lista dos carros-tomate, ou seja, aqueles com preço altamente inflacionado. Afinal, por mais que a nova geração do hatch médio coreano tenha evoluído em design e traga mais equipamentos, nada justifica um aumento dessa proporção. E quando as críticas pareciam exclusivas ao i30, a nova versão do Elantra, agora com motor 2.0 flex e mais equipada, chega por mais de R$ 96 mil. É um sedã médio (do nível de Honda Civic e Toyota Corolla) mais caro que um Ford Fusion 2.5 Flex, que um BMW 116i e quase no preço do novo Mercedes Classe A. Ah, e tem mais: não faz muito tempo um Sonata 2.4, irmão maior do Elantra, era vendido por R$ 95 mil.
Passando à outra marca coreana, a Kia acaba de apresentar o novo Cerato no Brasil. Sim, o Cerato, aquele sedã que tinha preço quase de compacto e tamanho quase de médio, e que assim obteve grande sucesso nas vendas para um modelo importado. Em 2009 chegou a ser vendido por R$ 49.900 na versão de entrada, que trazia basicamente o mesmo motor 1.6 oferecido agora (só que não flex). Pois bem, o novo estreia por R$ 67.400. Ainda que mais equipado, o projeto não evoluiu tanto assim para que o patamar de preço subisse mais de 30%. A Kia culpa o IPI elevado e a não entrada no regime Inovar-Auto, pela indecisão sobre a fábrica da marca no país. Mas o fato é que muita gente que admirava o Cerato agora vai conferir as belas linhas do novo modelo apenas pela vitrine das concessionárias.
Carros no Brasil são caros por uma série de fatores, e todos sabem disso. Mas a questão é que existem casos que chamam mais a atenção. E, importante, os exemplos não ficam somente nas tabelas da Hyundai ou da Kia. Usei essas marcas no texto apenas por se tratarem de casos mais recentes, que todos estão comentando. Minha sincera opinião? A decisão está na sua mão, caro consumidor - e isso vale para o tomate e para os carros. O tomate está caro? Então deixe ele lá na feira e troque o molho da macarronada pelo branco até que o valor da fruta volte a níveis aceitáveis. O que não falta é opção, seja no supermercado ou no mercado automotivo.